Joseph Losey: cruel observador da realidade

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Estranho Acidente (1967)

Na década de 1950, durante a chamada “caça às bruxas ao comunismo” conduzida nos Estados Unidos pelo senador Joseph McCarthy, existia uma “lista negra” em Hollywood. Quem fosse acusado de ser simpatizante da esquerda política encontrava dificuldades para trabalhar no mercado cinematográfico. O diretor Joseph Losey fazia parte do fatídico grupo. Teve até que se mudar para a Europa pra conseguir filmar com regularidade. Toda a hipocrisia e a falsa moralidade vividas por ele durante o incidente se tornaram temas recorrentes em sua filmografia, produzida principalmente na Inglaterra. O verniz dos bons valores e da normalidade que cobre a sociedade não resiste ao olhar desencantado de Losey.

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O Abutre (2014), de Dan Gilroy

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O fator mais impressionante de O Abutre é a forma como atualiza os temas de um clássico do cinema, Taxi Driver. Se no filme de Martin Scorsese o protagonista busca salvar sua metrópole da escória que a habita, mesmo que faça isso por vias tortas, o longa de Dan Gilroy mostra um homem apenas interessado em se alimentar da esquizofrenia da cidade grande. Sinal dos tempos.

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A imagem nossa de cada dia

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Tive a sorte de assistir a Close-Up, de Abbas Kiarostami, no mesmo período em que lia A Sangue Frio, clássico do jornalismo literário escrito por Truman Capote. Parecia improvável que essas obras fossem semelhantes, porque vindas de lugares e culturas tão diferentes. Mas, sim, tratam do mesmo tema: a importância da autoimagem e de como queremos que o mundo nos enxergue.

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Hitchcock inglês

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O primeiro trabalho de Alfred Hitchcock nos Estados Unidos foi Rebecca, A Mulher Inesquecível, sucesso de público e crítica que faturou o Oscar de Melhor Filme em 1941. Antes de sair da Inglaterra, sua terra natal, porém, Hitchcock já era um diretor de renome. Sua “fase inglesa” não se compara em qualidade aos clássicos americanos dos anos 1950 e 1960, claro. Mas aquele olhar único e diferenciado para os elementos cênicos estava lá desde o começo.

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A novela de ontem e a novela de hoje

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Como principal produto da televisão brasileira, a novela deveria ser mais bem cuidada por quem as cria – emissoras, escritores, diretores. Não digo isso por apreciar e defender a dramaturgia nacional para TV. A reciclagem de temas, recontando o já contado inúmeras vezes, beira o inacreditável. Do texto, não se tira quase nada: desenvolve mal temas amplos e relevantes para a sociedade; foca em tramas que não fazem a narrativa andar; abusa do uso do clichê e da linguagem formal; retrata um país fictício, sem pobres, feios e derrotados. Se ao menos o desastre dos roteiros fosse compensado com uma forma inteligente de se filmar, estariam todos desculpados. Mas não temos nem isso…

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