O Homem do Braço de Ouro é um musical disfarçado de filme noir. Basta notar a presença esmagadora da trilha sonora de Elmer Bernstein que percorre quase todo o filme, um jazz meio esquizofrênico, nervoso, sensual, inquieto. Exatamente como o personagem de Frank Sinatra, Frankie Machine, um ex-carteador aspirante a baterista viciado em heroína, às voltas com um mundo tão, ou mais, mesquinho e mentiroso quanto seu vício.
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Mês do Imperador – Akira Kurosawa: Céu e Inferno (1963)
Os filmes policiais de Kurosawa não se atêm somente às características do gênero do qual fazem parte: observam o mundo para radiografar a sociedade moderna e sua crise de valores como poucos. Os diagnósticos dessas análises, mesmo ligados ao modo de vida nipônico, são universais, como Céu e Inferno tão bem mostra. Continuar lendo
Mês do Imperador – Akira Kurosawa: Homem Mau Dorme Bem (1960)
É impressionante a lucidez encontrada nos roteiros criados por Akira Kurosawa e sua equipe de fiéis colaboradores — Hideo Oguni, Eijirô Hisaita, Ryûzô Kikushima e Shinobu Hashimoto. Seus dramas contemporâneos, os gendai-geki, como são conhecidos no Japão, desconstroem a sensação de invulnerabilidade da sociedade moderna pós-Segunda Guerra Mundial ao abordar, de forma pesada, sem concessões, temas como violência, política, divisão de classes. Homem Mau Dorme Bem faz parte desse grupo. Se não bastasse ser a obra mais bem filmada de Kurosawa, também é, de longe, a mais desesperançosa, uma mistura de noir com filme de horror. Continuar lendo
Mês do Imperador – Akira Kurosawa: Cão Danado (1949)
Em Cão Danado, de 1949, Kurosawa anteviu aspectos tão caros ao mundo atual: o embrutecimento da sociedade, a glamourização do crime e a banalização da violência sem sentido. Antes mesmo de se tornar conhecido mundialmente — o que aconteceria um ano depois, com Rashomon —, o cineasta já possuía um estilo de filmar completamente consolidado.