Um soldado americano se esconde das batalhas do Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial, em uma ilha intocada pela modernidade. Em meio aos nativos desse local idílico, encontra outro tipo de sociedade, formada por homens sem qualquer amarra social. Selvagens? Não, livres. Ali, o contato com a natureza é íntimo, expondo o âmago da ligação do homem com sua terra. A vida existe pelo simples ato de viver. Esse é o início de Além da Linha Vermelha, mais do que um filme de guerra, um filme de ideias.
Terrence Malick reflete sobre a condição humana se utilizando desses contrastes: a vida natural versus o combate sangrento; a dúvida da vitória no campo de batalha contra as lembranças ternas da mulher amada. A luta não se dá apenas no sentido físico, mas também de uma forma simbólica – a dificuldade com que os americanos tomam uma colina dos japoneses seria o “basta” da própria natureza à guerra? – e psicológica, com soldados à beira de colapsos mentais.
Um tom contemplativo percorre todo o longa, principalmente quando as ilhas do Pacífico são desnudadas por meio de belas, mágicas e enigmáticas imagens. Por outro lado, a brutalidade da guerra se faz presente nos corpos dilacerados, perfurados e queimados. A vida é beleza e horror na mesma proporção.
Parece-me que a chave de Além da Linha Vermelha está no personagem de Jim Caviezel, aquele soldado que vê na tribo em que se instala uma resposta para a barbárie da qual foge. Não que Malick condene a evolução tecnológica da sociedade, mas não há dúvidas de que ela, entre incontáveis benefícios, mecaniza a guerra, transformando-a em uma indústria da morte. O diretor busca, em meio aos intintos mais sombrios de nossa espécie, relembrar traços esquecidos da essência humana – o entendimento, o espírito coletivo, o amor.
Pode-se não gostar dos resultados dessas obras, mas há de se respeitar autores, como Malick, que tem no ato de pensar a base de seu trabalho.