Quatro razões que mostram o porquê de O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, ser essencial para nosso País.
1. Apresenta um novo caminho ao cinema brasileiro
Bandido rasga a cartilha do Cinema Novo. Enquanto Glauber Rocha mostra a essência do Brasil por meio de um processo narrativo que evoca nossa pureza cultural, nossas raízes ligadas à terra, Sganzerla e seus colegas da Boca do Lixo paulistana aplicam a antropofagia cinematográfica, alimentando-se de todas as influências estrangeiras possíveis para fazer cinema radical, subversivo, a fim de escancarar o amargo momento político e social vivido durante a ditadura militar. O uso disconexo entre som e imagem e a profundidade de campo de Orson Welles; a montagem fragmentada de Godard; o modo labiríntico das histórias de Alain Resnais; o surrealismo de Luis Buñuel: encontramos tudo isso em Bandido. Se Glauber é Euclides da Cunha, Sganzerla é Oswald de Andrade.
2. Possui personagens que não poderiam ser encontrados em outro lugar
Tipicamente tupiniquim um zé-ninguém que quer ser importante, fazer algo grande na vida, mas sabe que nunca vai conseguir. O Luz, como é gentilmente chamado o bandido assassino vivido por Paulo Vilaça, representa de forma perfeita o eterno complexo de vira-latas do brasileiro, imortalizado nas palavras e na pena de Nelson Rodrigues. Podemos ver ainda todo o conceito de brasileirice – a esperteza, o “jeitinho”, a corrupção, a falta de interesse pelo futuro – em praticamente todos os personagens, desde o delegado Cabeção (Luiz Linhares), até a prostituta Janete Jane (Helena Ignez), passando ainda pelo político J.B. da Silva (Pagano Sobrinho).
3. Diálogos memoráveis
O roteiro escrito pelo próprio Sganzerla provavelmente tem o maior número de frases antológicas reunidas em um único filme. Algumas delas, proferidas por variados personagens, resumem bem o termo “Terceiro Mundo”:
“Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha. Avacalha e se esculhamba”
“O terceiro mundo vai explodir! Quem tiver de sapato não sobra, não pode sobrar”
“A solução pro Brasil é o extermínio”
“Posso dizer de boca cheia: eu sou um boçal”
“Arte moderna. É o que sempre digo: coisa de depravado. Lixo! Quanto mais podre, mais caro! Por mim eu mandava juntar tudo isso e botava fogo! Admito tudo menos essa laia de parasitas intelectuais!”
“Um país sem miséria é um país sem folclore! E um país sem folclore… O que é que nós podemos mostrar pro turista?”
4. E, finalmente: é o próprio Brasil
Torto, sujo, absurdo, folclórico, sensacionalista, delirante, ridículo, corrupto, vagabundo. Tudo isso é O Bandido da Luz Vermelha, tudo isso é Brasil.
O jeitão anárquico de Sganzerla, essa vontade de querer ser ao mesmo tempo retrato do país com uma embalagem do cinema comercial, faz com que ele mande para os infernos tudo o que o Cinema Novo pregava, as complicações herméticas de Glauber. Um clássico tupiniquim atualíssimo. Resenha genial!
oi, post indicado nos melhores da semana do blogs de cinemaclassico. abraço
5 Razão: a ponta de Sonia Braga…
Thiago, apareça lá no blog. O Falcão tá comemorando um ano de existência.
Cumprimentos cinéfilos!
O Falcão Maltês
bem lembrado Antonio!
isso sem falar na ponta hilária e nonsense do Sergio Mamberti
abs!